Médicos: Mocinhos ou Vilões?

  

Hoje li no site  Porto Noticias um comentário que me inspirou para escrever uma resposta. O comentário está na justamente na matéria que divulga a criação da AMEVALE e nele a pessoa questiona nossas intenções em cria-la e nos acusam de estarmos sendo Hipócritas, buscando apenas maiores salarios. Achei interessante como colocam a culpa das mas condições do serviços de saúde nos médicos sem perceber que também somos vitimas desse sistema. Mas isso é comum quem está na linha de frente sempre paga o pato.

Mesmo sem entrar no mérito de quem fez tal comentário, achei ele oportuno e bem vindo para que eu possa responde-lo e esclarecer alguns pontos. Então resolvi publicar aqui o tal comentário e minha resposta.

  "Nome: Antonio Santos
  E-mail: antoniosantos33@hotmail.com
  Publicado às: 07/02/2013 - 22:00:30
  Cidade: Juara

Poder decisão? Melhorar a saúde pública?
Infelizmente os profissionais dessa classe só estão preocupados com os salários altissimos que recebem e HOJE são o grande problema e dreno de recursos da maioria dos municipios do vale. Se estivessem tão preocupados assim trabalhariam pela metade do que ganham ( e mesmo assim receberiam muito bem ainda ) e a saúde financeira dos municipios estaria bem melhor. MENOS HIPOCRISIA E MAIS ATITUDE DOUTORES!"

RESPOSTA:

Muito obrigado Antônio por sua colocação, desta forma tenho a oportunidade de esclarecer alguns pontos.

Hoje os grandes impasses que temos para trazer novos médicos para a região são: Salários defasados em relação a outras regiões e condições de trabalho ruins. E é justamente atitudes como esta sua que colocam os médicos como “os vilões da saúde pública” um dos grandes motivos de criarmos a associação. Nós médicos não somos gestores dos recursos públicos, portanto não podemos ser responsabilizados pela escassez dos mesmos. Concorda?

Fala-se muito em altos salários médicos na região. Mas será mesmo? Por que então tanta dificuldade em contratar novos médicos?

Um médico recebe hoje para dar plantão de 12 horas no hospital mais movimentado da região (que é a principal referência de atendimento de todo VALE) a quantia de R$ 600,00, isso em contrato de prestação de serviços sem direito a férias, FGTS, 13º e outras garantias comum a outros trabalhadores. Em um primeiro momento essa quantia pode parecer muito, mas analisemos melhor. Esse médico está responsável por uma enfermaria com cerca de 20 pacientes internado (muitos graves vindos de todos os municípios do vale), ele também é responsável pelas urgências e emergências que chegam, além das centenas de consultas rotineiras que acabam sendo atendidas no hospital devido à lotação dos postos. Ao todo nessas 12 horas o médico vê pelo menos 100 pacientes entre internos, urgências e consultas. Ou seja recebe cerca R$6,00 por cada paciente. Não sei sua condição financeira, mas se acontecer um acidente ou algo grave com você é grande a chance de você ir parar neste hospital e o médico, que estará se esforçando para salvar sua vida estará recebendo cerca de R$6,00 para isso, vale lembrar, sem garantias trabalhistas. Acho que você deve gastar mais que isso para cortar o cabelo.

Mesmo assim como você disse os médicos tem uma renda pessoal alta, mas isso não é proveniente de grandes salários e sim do acumulo de funções, não existe nenhum médico na região que tenha apenas um emprego, geralmente acumulam funções como PSF, plantões, pericias, exames complementares, etc... O resultado disso é: enquanto a maioria dos trabalhadores tem uma carga horaria de 40 horas semanais um médico geralmente tem a carga média de 100 horas semanais. Portanto não acho que seja certo criticar como você fez, olhando apenas a renda final sem ver a forma como se consegui-la.

Estamos sim muito preocupados em melhorar a saúde publica da região. E o motivo disso é obvio: SOMOS OS PRINCIPAIS INTERESSADOS NESSA MELHORIA. Qual o trabalhador que não quer melhores condições do seu ambiente de trabalho? Portanto melhorar a Saúde Pública do Vale do Arinos passa a ser uma luta nossa, pois nós dependemos dela para trabalhar.

Atenciosamente,

Ricardo Leandro Felipe

Médico e Secretario da AMEVALE