Acabo de completar 4 anos atuando
como médico no Vale do Arinos e uma situação que sempre vejo são os municípios da
região procurando médicos. Nunca estão com seu quadro completo, quando completa
em um município falta em outro, em Porto dos Gaúchos eu trabalhei com 7 médicos
diferentes nestes 4 anos e houve um longo período em que estive sozinho.
Em contrapartida disso vimos uma
serie de reportagem no Jornal Nacional sobre o ensino médico no Brasil e um dos
destaques desta serie foi mostrar que o numero de faculdades de medicina no
Brasil mais que dobrou nos últimos 10 anos. E é verdade., no ano em que fiz meu
vestibular, por exemplo, o mato grosso formou 40 novos médicos hoje forma mais
de 200. Isso tudo mostra um futuro complicado para a medicina, por que o
aumento da quantidade geralmente vem acompanhado na redução da qualidade.
Mas se forma tantos médicos
novos, por que os municípios do Vale do Arinos não conseguem completar seu quadro
de médicos? Simples, junto com o aumento
do número de profissionais aumentou-se também o número de postos de trabalho
para médicos, principalmente nos grandes centros e nas regiões próximas a eles.
Ou seja, faltam médicos até nas capitais e regiões metropolitanas.
Outro ponto que contribui para a
falta de médicos na nossa região é a equiparação salarial. Há anos atrás um
médico que se aventurava em vir para regiões longes dos grandes centros recebia
verdadeiras fortunas de remuneração e tinha a possibilidade de enriquecer rápido.
Porém hoje os repasses do Governo Federal para manter um PSF, por exemplo, é
igual em todos os lugares e os municípios não conseguem dar uma contrapartida atrativa.
Soma-se a isso o fato dos hospitais da região viverem de repasses menores, pois
são de baixa e média complexidade, logo os valores dos plantões, na nossa região,
são bem inferiores ao que se recebe na capital do estado, por exemplo.
Resumindo: por um PSF no vale do
Arinos se recebe em média uns 20% a mais do que na capital do estado, e as
cidades que circunda a capital já tem valores semelhantes ou até superiores aos
nossos. Um plantão em um hospital público em Cuiabá se recebe de duas as vezes
três vezes do valor pago na nossa região, visto que os hospitais são de alta
complexidade. Trabalha-se mais, porém recebe-se bem mais!
Logo destes 200 médicos que se
formam no mato grosso poucos são os que estão dispostos a se aventurar pelo
norte do estado e os poucos que vem, são por motivos pessoais e não financeiros
(como no meu caso). Alias a maioria dos que se graduam no Mato Grosso não ficam
nem no estado, pois no Rio de Janeiro, em São Paulo e no Sul do Brasil se
recebe o mesmo que em Cuiabá. Não é atoa que encontro mais colegas de faculdade
quando vou a São Paulo do que em Cuiabá.
A situação parece complicada e
sem solução, porém existe um Projeto de Emenda Constitucional de autoria do Deputado
Federal Dr Ronaldo Caiado (DEM-GO) que vem apresentar uma solução para esse
problema. Mas vou deixar para falar dela em outro texto, se não este vai ficar
muito cansativo e ninguém vai ler.